quinta-feira, 9 de maio de 2013

Vem

Ei, me procura, diz que sentiu minha falta, que esperou o dia todo que eu te chamasse. Diz que ficou aguardando uma mensagem minha, qualquer sinal. Confessa que você é orgulhoso e adora fazer falta, confessa que você fica aguardando eu te procurar só pra você poder pensar ‘sim, ela gosta de mim’. Passa na minha rua e toca o interfone da minha casa, diz que estava com saudades, que queria me ver, me fazer rir, que acha lindo meu sorriso. Sei lá, só vem, mas vem de corpo e alma. É que eu gosto da sua companhia.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

não, não precisa me amar

Pode vir se quiser. Se não quiser, tudo bem. Mas se decidir vir, vem despido – despido de esperança, de expectativa, de apego. Vem sem aliança, sem promessa, sem flores. Vem só você mesmo. E não precisa me amar, não precisa fazer serenata, não precisa de flerte, palpitação, tremedeira. A gente sela esse acordo não verbal e aí ambos saem ganhando. Feito?

Eu espero você chegar, mas não demora muito, tá? Senão eu acabo adormecendo. Deixo você se sentar no sofá, pode até escolher o canal (desde que não seja futebol). Eu vou deitar no seu colo, e te permito acariciar as minhas madeixas, leve e vagarosamente. Mas não vem com carinho, não vem com ternura, pois quando minha nuca se arrepiar, vai ser uma reação física e não química.

Eu pego umas cervejas na geladeira e você me escuta tagarelar sobre o aumento do aluguel, a morte da Dama de Ferro e o novo filme do James Franco. Nem faço questão de que você se importe, só segue meus olhos enquanto eu falar, franze a testa e acena de vez em quando. Mas não me encare com afeição e também não sorri muito, daquele seu jeito bobo e despreocupado. Pode até falar de você, se te der vontade. Eu não vou interromper quando for sua vez, prometo. Talvez eu só segure sua mão e a aperte um pouco a cada dois minutos pra você saber que eu ainda estou te acompanhando, afinal, é indelicado sucumbir ao sono no meio de uma conversa… a não ser que você me conte uma história pra dormir.

E pode ser que você consiga beijar minha boca, e eu até percorro os dedos pela sua barba espessa e seu cabelo preto. Só não se anime muito, pois o calor que emanar do meu corpo não tem nada a ver com você. É que qualquer outro par de mãos deslizando pelas minhas costas ou quaisquer outros lábios atiçando um esgar de mordida faria minha temperatura subir. Quem sabe acabemos nos rendendo à compulsão da volúpia, mas puramente por instinto carnal, não por algum sentimento. É claro.

Talvez nós durmamos abraçados, no sofá mesmo, pra poupar intimidade. Eu encosto a minha cabeça no seu pescoço e você me enlaça pela cintura. Nada de muito amoroso. Só me aperta mais junto caso fique frio, afinal eu não quero me resfriar. E não beija minha testa nem fica me olhando enquanto estou dormindo, existe algo mais constrangedor que isso? Pode ser que eu me aconchegue bem perto durante a madrugada e fique observando seu peito subir e descer a cada lenta respiração, mas isso é coisa que eu faço mesmo, nas noites que tenho insônia. Nada de especial.

Por fim, quando o sol lamber seu rosto e você acordar, tenta ir embora sem eu perceber. Assim é melhor, pega suas coisas e sai. Não é que eu vá sentir sua falta, eu só prefiro evitar qualquer ínfima possibilidade do meu coração apertar e ficar vazio. Não precisa se despedir, porque despedidas me deixam irritada. Tranca a porta e passa a chave por baixo, por favor. Não deixa bilhete, cheiro ou café. Nenhum vestígio. Vai embora como se nunca tivesse vindo, e eu vou continuar a te amar como se nunca tivesse te amado. Pode ser?

— Alícia Madrid

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Desapego

Ser desapegada é não se importar de ficar solteira, é não ter medo de sair e voltar sozinha pra casa, é conseguir assistir um filme sem chorar imaginando o porque que a sua vida não é exatamente igual, é estar com alguém e não ter medo perdê-lo. Ser desapegada é saber que o amor próprio é capaz de te aquecer em noites frias e ter certeza de que homem não é insubstituível. Sempre terão outras histórias, novos perfumes e outros abraços de moletom.

Ser desapegada é ser mais você, é se amar antes de amar qualquer outro. Você pode estar namorando, mas se ele quiser te largar... Ok, adeus. Do meu lado apenas quem quiser estar. 

O melhor de viver desacreditando das pessoas, é que um dia iremos nos surpreender com alguém que valha a pena acreditar.

 Isabela Freitas